As quatro escolas cervejeiras

escola alemã
escola franco-belga
escola britânica
escola americana

Uma escola cervejeira pode ser definida pelo conjunto de estilos e técnicas de produção de cerveja em determinada região geográfica, levando em consideração fatores como matérias-primas, tecnologias e legislações locais. Baseada em tradição e inovação, a escola cervejeira representa a história e a cultura da produção de cervejas de uma ou mais nações.

escola alemã

Considerada a mais tradicional entre as escolas cervejeiras, a escola alemã também é conhecida como escola germânica. Além da Alemanha, também inclui República Tcheca, Eslováquia, Áustria e Polônia. A escola cervejeira da terra da famosa Oktoberfest é marcada pelas cervejas lagers, pela forte presença de cervejarias locais e pela Reinheitsgebot, a lei da pureza da cerveja.

A Reinheitsgebot lei promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera, em 23 de abril de 1516. A lei da pureza da cerveja instituiu que a cerveja deveria ser fabricada apenas com os seguintes ingredientes: água, malte de cevada e lúpulo. A levedura de cerveja não era conhecida na época.

Uma das principais características da escola cervejeira alemã é a predominância de estilos da família das lagers, cervejas de baixa fermentação. As cervejas alemãs costumam ter caráter maltado, lúpulos florais e amargor acentuado. As leveduras são mais neutras - exceto nas cervejas de trigo. Além disso, é bastante comum na Alemanha que cada cidade tenha sua própria cervejaria, o que contribui para a garantia da qualidade, para a maior oferta de produtos, e para o aumento da rivalidade entre as regiões. Isso também faz com que determinados estilos sejam característicos de regiões específicas.

escola franco-belga

A Bélgica é considerada por muitos apreciadores e estudiosos de cerveja como o paraíso da bebida. Com um território do tamanho do estado do Ceará, o país conta com mais de mil rótulos e a reputação de melhor cerveja do mundo, além de ser o lar da maior cervejaria do planeta, a Anheuser-Busch (AB) Inbev. As características das cervejas, no entanto, ultrapassam as fronteiras atuais do país, motivo que faz com que a escola cervejeira franco-belga abarque também boa parte do Norte da França e a Holanda

Na Bélgica, tudo aquilo que pudesse agregar sabor ou valor a cerveja era válido ser experimentado. Ou seja, as cervejas poderiam ser feitas com diversos tipos de cereais, podiam ter adições de frutas e mel, podiam além do lúpulo, receber outros temperos. No caso das Witbiers, por exemplo, é adicionado além do lúpulo, cascas de laranja e sementes de coentro. Essas cervejas podiam conter açúcar e caramelo na sua formulação e algumas delas não eram nem inoculadas com fermento, eram simplesmente deixadas para serem fermentadas espontaneamente por micro-organismos presentes na atmosfera. A Bélgica e suas cervejas são marcadas pelos seus belos monastérios ou abadias cervejeiras, cujos muitos deles até hoje produzem cerveja como produziram por séculos. Nesses monastérios foram formuladas muitas das mais tradicionais cervejas produzidas até hoje, como as Witbier, Blond, Dubbel, Tripel e Quadruppel, todas elas cervejas de alta fermentação (Ales) e normalmente bastante condimentadas e excêntricas.

Sem ter tido uma Lei de Pureza como a alemã, a Bélgica de se destaca pela inventividade dos ingredientes das cervejas. Ervas como coentro e alcaçuz, especiarias como gengibre, e frutas como cereja e framboesa já eram usadas nas cervejas desde a Idade Média. Ao primar pela multiplicidade de estilos e insumos, a escola franco-belga oferece uma miríade de sabores complexos. Cervejas aromáticas, alto teor alcoólico, maturação em barris, destaque para as leveduras e receitas aperfeiçoadas ao longo de séculos nas abadias são algumas das principais características dessa escola cervejeira.

escola britânica

Das escuras porters e stouts até as lupuladas pale ale e IPAs, a escola cervejeira britânica apresenta uma variedade de estilos; reforça o hábito de frequentar os famosos pubs; e evidencia a paixão dos britânicos pelas cervejas de alta fermentação, as ales. Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e República da Irlanda fazem parte dessa escola de cervejas que mantém tradições que remontam ao povo celta, passando pelas esposas cervejeiras, a Revolução Industrial e a Campaign for Real Ales.

Durante a Idade Média, a cerveja era uma das bebidas mais consumidas na Bretanha e a produção era uma tarefa das mulheres, chamadas de alewives (esposas cervejeiras). Foi a partir da venda de cerveja por elas que surgiram casas para comércio da bebida, as alehouses e posteriormente as public houses - ou pubs. Antes da chegada do lúpulo no século 14, a bebida era aromatizada com outras ervas e frutas e chamada apenas de "ale". Já "cerveja" era o nome da bebida com a adição do lúpulo. Também no século 14 surgiram as primeiras guildas cervejeiras, organizadas por homens de negócios que estruturaram a produção, montando as primeiras cervejarias comerciais. Com a revolução Industrial, as novas grandes cervejarias investiram em melhorias e no barateamento dos processos cervejeiros e caíram no gosto da população. O Porter foi o estilo que ganhou destaque, pois além de substancioso e calórico, podia ser feito em grande escala. Porters e, posteriormente, Stouts dominaram o mercado britânico até meados do século 19, quando surgiram as Pale Ales e Ipas. Já as cervejas de baixa fermentação só conquistaram o mercado do Reino Unido na segunda metade do século 20. Em 1971 um grupo de cervejeiros ingleses fundou uma associação de consumidores, a CAMRA (Campaign for Real Ale), para resgatar a tradição dos pubs e das Real Ales, cervejas produzidas desde antes das Porters, e estimular a cultura da cerveja artesanal.

As típicas cervejas da escola britânicas são ales, ou seja, cervejas de alta fermentação. Também possuem como característica a boa carbonatação, além do amargor perceptível. Marcada pela tradição, a escola inglesa também é berço de vários estilos popularizados em todo o mundo, além de possuir influência na criação da nova escola cervejeira americana, sobretudo por meio do trabalho de estímulo à produção artesanal realizado pela CAMRA. Outro aspecto importante é o modo de consumo dos britânicos, já que a tradição dos pubs faz com que a maior parte da cerveja seja consumida diretamente do barril (como chope), e não engarrafada. São mais de 60 mil pubs espalhados pelo Reino Unido, sendo 53 mil só na Inglaterra.

escola americana

A mais jovem entre as quatro escolas cervejeiras é conhecida pelo renascimento da cultura da cerveja artesanal. O movimento fez com que os Estados Unidos, até então conhecido como lar de grandes grupos cervejeiros que produziam cervejas pouco complexas, se tornasse também referência em experimentação e novidades para o mercado cervejeiro mundial.

Os nativos norte-americanos já produziam cerveja antes da chegada dos europeus. Estima-se que a bebida era feita com milho, seiva de árvores e bétula. Mas foram os holandeses os primeiros europeus a elaborar cerveja nos Estados Unidos, e a produção se intensificou com a chegada de ingleses e alemães. Ao longo dos séculos, os cervejeiros americanos contribuíram bastante para a standartização das cervejas, já que foram eles que começaram a experimentar adicionar milho e arroz nas cervejas como forma de torná-las mais claras. Além disso, a presença de poucas e grandes cervejarias também foi uma característica importante do mercado cervejeiro americano até os anos 1980. Mas um dos fatores que mais influenciou a produção de cerveja nos EUA foi a chamada Lei Seca. Havia 1.179 cervejarias no país quando a norma foi proclamada em 1919. Quando a lei foi revogada em 1935, sobraram apenas 703 delas. Além disso, nos anos seguintes, com a Segunda Guerra Mundial a ordem era racionar o abastecimento de grãos, o que aumentou ainda mais o uso de adjuntos como o milho e o arroz. A partir de 1978, com a revogação da lei que proibia a fabricação de cerveja caseira nos EUA, começaram a surgir cervejarias artesanais pioneiras na fabricação de cervejas diferentes das standartizadas de então. A chamada revolução artesanal impulsionou o crescimento do mercado nos Estados Unidos, influenciou o fortalecimento da cultura cervejeira em outros países e definiu a importância da escola cervejeira americana no mundo.

Uma forte característica da escola cervejeira americana é a utilização de insumos locais. O país é o segundo maior produtor de lúpulo atrás apenas da Alemanha. As variedades cultivadas nos EUA possuem um perfil cítrico, frutado e floral e um aroma que lembra o de pinho que conferem intensos aromas e sabores para as cervejas. Além disso, os cervejeiros americanos são entusiastas do "extremos": mais lúpulo, mais malte e até mesmo mais álcool, e também das experimentações. A escola americana é notória na mistura não apenas de ingredientes inusitados, mas também na combinação de estilos diferentes entre si. Os Estados Unidos também são conhecidos pelas técnicas cervejeiras pioneiras e pelo fato de que o movimento causado pela sua "revolução" artesanal se espalhou para várias partes do mundo como ásia, Austrália e América do Sul.


malte a alma da cerveja...

Antes de ser malte, o grão é um cereal normal como a cevada, o centeio, o trigo, o milho, entre outros. Depois de colhido, esse grão segue para a maltaria onde acontece o processo de análise e testes. Passado nos testes, os grãos ficam em um ambiente com umidade e temperatura controladas. Depois que os grãos brotam, o processo é interrompido e assim os maltes são secados, torrados ou defumados como é o caso da cerveja com sabor de bacon A função do malte é fornecer nutrientes e açúcares que funcionarão como alimento ao fermento (as nossas amiguinhas, leveduras). A partir daí a mágica acontece. São produzidos o álcool e gás carbônico no famoso processo chamado fermentação. O tipo de malte e a intensidade de torrefação determinam algumas características superimportantes nas cervejas como: a cor, o sabor e o aroma. As cervejas claras com notas de cereais e pão são derivadas de maltes menos torrados. Já os mais torrados produzem cervejas mais escuras, com notas de café e caramelo.

O que é lúpulo?

O lúpulo é uma planta utilizada na fabricação da cerveja, por possuir uma flor que contém substâncias que conferem amargor e também aroma ao produto. O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma espécie de angiosperma que apresenta inflorescências que são utilizadas na produção da cerveja. Essas inflorescências (agrupamento de flores) contêm substâncias importantes que garantem aroma, amargor e outras propriedades à cerveja. O lúpulo é usado de diferentes formas na indústria cervejeira, podendo ser utilizado na forma de extrato, flores inteiras ou pellets. As plantas fêmeas de lúpulo possuem uma inflorescência capaz de produzir uma quantidade considerável de um produto chamado de lupulina. Esse produto é uma substância que contém compostos que garantem amargor, aroma e propriedades antioxidantes. Na lupulina, é possível encontrar, por exemplo, resinas, óleos essenciais, proteínas, polifenois e ceras. Nas resinas, são encontrados alfa e beta ácidos, os quais são os responsáveis por garantir algumas importantes propriedades da cerveja. Os alfa ácidos atuam principalmente garantindo amargor, enquanto os beta ácidos destacam-se principalmente por suas propriedades antimicrobianas.

fermento, ou levedura

O fermento, ou levedura, é outro dos principais ingredientes da cerveja. São microrganismos unicelulares do Reino Fungi (ou seja, fungos), que basicamente consomem os açúcares presentes no mosto e liberam álcool e gás carbônico (CO2). Podemos dizer que o papel do cervejeiro é preparar o mosto e deixá-lo em condições favoráveis para as leveduras trabalharem, afinal são elas que irão produzir a cerveja de fato. é o fermento que vai determinar o tipo e os sabores da cerveja, é no processo da fermentação que os sabores são incrementados. Existem dois tipos principais de leveduras para cerveja: as do tipo "ale", que são de alta fermentação, e as do tipo "lager", de baixa fermentação. Há centenas de cepas de cada um destes fermentos, cada qual com suas características próprias.